10.5.06

Troubles in Paradise

I feel like a mistress
Love you can′t tell
Waiting for crumbs
In a smelly hotel

The bed doesn′t rock
The phone doesn′t ring
There′s someone out there
But no one in here

If I knew where to go
If I knew what to do
I might take over life
I might get over you

9.5.06

Statement

Antes que me proíbam a ironia prefiro que me tirem um rim.

Aquela que se avizinha

A janela do quarto onde fica o meu computador dá para o vão do prédio, com vista para as janelas dos apartamentos do outro lado.

A maior parte do tempo as persianas daqui ficam fechadas para garantir a minha privacidade, pois é neste quarto onde ficam minhas roupas.

Em uma das vezes em que estavam abertas, eu vi o habitante do quarto ao lado. Um velhinho bem velhinho, deitado na cama, aparentemente vendo tv. Acho que ele me viu também. Fiquei um pouco envergonhada com a minha intromissão e me afastei.

Nas ocasiões de janela aberta que se seguiram, tornei a ver o velhinho, na mesma posição, ou seja, imóvel. Minha reação sempre foi a de me afastar.

Mas eu me afastava apenas fisicamente, pois em minha cabeça permaneciam por vários momentos a imagem do meu vizinho, me causando constrangimento.

Constrangimento por pensar na velhice, por me deparar com esse estado tão frágil e indefeso em que ela se apresentava para mim. Lembro de uma frase que li certa vez que dizia que “a velhice é a coisa mais inesperada que acontece na vida do sujeito”.

E, inesperadamente, ela estava ali, se mostrando inteira para mim, na forma de um senhor que parecia estar preso àquela cama, dia após dia.

Meu medo então passou a ser o dia em que abrisse a janela e não o visse mais lá. Isso seria o fim, seria o indicativo do que nos espera caso sobrevivamos a todos os testes. Para onde mais poderia aquele velhinho ir, afinal?

Aconteceu ontem. E hoje também. Enquanto eu escrevia, aproveitei para procurar por ele mais uma vez. Ele não está lá, apesar de uma luz fraca no quarto me lembrar uma tv ligada. Será que os companheiros ainda esperam por ele? A tv ligada e a cama arrumada…

Mas não, ele não está mais lá.

7.5.06

Beyond the Sea

i heard there was a secret chord
that david played and it pleased the lord
but you don't really care for music, do you
well it goes like this the fourth, the fifth
the minor fall and the major lift
the baffled king composing hallelujah


A casa é azul. É antiga, com azulejos azuis. Tudo bem, vai pintar de branco. Vamos começar do zero.

Não vai pintar. A casa é azul, ele gosta assim. Ela o lembra a idade de seu espírito, ela pertence à época em que viveu em sonhos.

Ela olha, ela cheira, ela dança, ela geme, ela se isola em seu próprio tempo. Ela é assim, como deve mesmo ser.

Ele caminha submerso por seus cômodos.

hallelujah...

well your faith was strong but you needed proof
you saw her bathing on the roof
her beauty and the moonlight overthrew you
she tied you to her kitchen chair
she broke your throne and she cut your hair
and from your lips she drew the hallelujah


Ele tem quatro panelas. Não é muito hábil com elas, mas elas são pacientes com ele. Olham para ele condescendentes.

Sabem que são as protagonistas de suas horas felizes. Sabem que se esforça para não fazer feio, ainda que não chegue perto do talento de quem as manejou antes dele.

Quando está submerso em meio a elas não escuta o tempo ranger no relógio vagabundo que comprou na promoção. Ele parece querer ajudar, fazendo silêncio para a sua concentração.


Pia


hallelujah...

baby i've been here before
i've seen this room and i've walked this floor
i used to live alone before i knew you
i've seen your flag on the marble arch
but love is not a victory march
it's a cold and it's a broken hallelujah


Fez um jantar grandioso. Se não com pratos sofisticados, usando todas as quatro panelas de uma só vez. Seria essa a hora de ser punido por tanta pretenção.

Mais tivera, mais usara, enfim. Cortou, picou, refogou, cozinhou, ralou, escaldou, temperou. Lavou para reusar. Secas no próprio fogo que transformava os ingredientes e perfumava o aquário úmido.

Usou toda a sua concentração e se atrapalhou muitas vezes. Mas criou todos os courses. Exceto a sobremesa, pois de doce lhe bastava o momento.

hallelujah...

well there was a time when you let me know
what's really going on below
but now you never show that to me do you
but remember when i moved in you
and the holy dove was moving too
and every breath we drew was hallelujah


Ninguém estava lá. Ninguém provou de seu esforço. Amor dissipado em várias pequenas refeições que se seguiram pelo fim de semana, até acabar em sobras sem graça dentro de tupperwares na geladeira.

Ele tinha alguém em pensamento, seu amor tinha destinatário. Seu jantar tinha um convidado.

Que não estava lá.


Amor


well, maybe there's a god above
but all i've ever learned from love
was how to shoot somebody who outdrew you
it's not a cry that you hear at night
it's not somebody who's seen the light
it's a cold and it's a broken hallelujah

hallelujah...


O amor foi preparado, cozido, consumido, dispensado, lavado e guardado em serena solidão.

No aquário, os peixes de mares antigos e as algas lânguidas movimentam-se com apática lentidão.

TPM - Destructive Thinking

Chocolate e rompimento.