O sol, pontual, não demora a se levantar.
A cama, ceia de sonhos ruins, se diverte a nos expulsar.
Ele não exatamente se deitou.
O sono o pegou no sofá.
A luz bate de leve, querendo entrar.
A vida real os dentes já está a mostrar.
O relógio não despertou.
Ele ainda a dormir no sofá.
A procissão prossegue pelo rio, pela rua, pelo ar.
Navegantes a pedir, a agredecer, a proclamar.
Tanta gente se emocionou.
E ele a dormir no sofá.
A banda, as marchas, o bloco a passar.
Feias fantasias a nos envergonhar.
A escola na tv desfilou.
E ele a dormir no sofá.
Um cano estourou no sexto andar.
Tudo abaixo vai alagar.
O zelador nossa água cortou.
E ele a dormir no sofá.
Eu já planejei, já calculei, já sangrei,
Já chorei por ciúmes, por medo e por dor.
Já tomei café, cortei a unha do pé.
Pesquisei uma doença, conferi umas ações,
Pensei no sentido da vida, fiz resoluções.
Me senti gorda, não tão gorda, fútil, inculta.
Já descobri que só a mim pertence toda culpa.
Ele, alheio, tem um leve sorriso nos lábios.
E segue a dormir no sofá.
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