Quando eu voltei para São Paulo, vim num susto, deixando para trás minha casinha que eu gostava tanto, meus móveis, minhas coisas, meus amigos.
Deixei no passado a bela Porto Alegre que, como todo sonho, começa a ficar esquisito conforme a noite acaba.
Vim achando que o retorno seria uma festa, uma volta para o conhecido, para a cidade que eu adoro, para os velhos amigos. Achei que seria fácil e certo começar uma vida nova cheia de prazeres, saídas, viagens e diversão.
Uma volta para a realidade do jeito mais bonito que se pode sonhá-la.
E quase um ano depois, em São Paulo, muitas vezes não sei se estou dormindo ou acordada.
Parece que a qualquer momento eu vou acordar em Assis, no meu quarto verde, com minha mãe chamando para ir ao inglês, ao ballet ou ao colégio.
Clichê, de acordo. Voltando.
Porto Alegre reagiu mal à minha partida. Quase me enlouqueceu com a mudança, me entregou tudo sujo, quebrado, cuspido.
O apartamento que devolvi à imobiliária, que apenas precisava de uma pintura, cobrou caro minha ausência, transformou-se em um drama de vários capítulos e muitas dores de cabeça.
Já São Paulo, para ajudar, não ajudou.
Confessou que me amaria desde que eu tivesse dinheiro e me negou os prazeres, as saídas, as viagens e a diversão. Arranjou-me um emprego que pagava mal e não me satisfazia.
Eu ainda estou tentando provar-lhe meu valor, mas confesso que mais fácil seria quanto mais nele eu acreditasse.
Mas insisto. Procurei e comprei um apartamento antigo e espaçoso, do jeito que eu queria, no local que desejava. O preço: uma reforma cara que me obriga a morar num flat mais caro ainda.
Para completar, a cidade gripada de crise me espirrou para outro emprego. Foi rápido e assustador. É onde estou agora refletindo enquanto seo briefing não vem. It’s day one.
O apartamento há de ficar lindo. O emprego há de dar certo.
E eu hei de acordar em breve para uma realidade onde valha a pena ficar de olhos abertos.
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