3.10.07

Leminski de novo

"Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
e as estrelas lá no céu
lembram letras no papel,
quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?"
(Paulo Leminski)

...

Esse negócio de escrever é esquisito.
Pode ser profissão,
Pode ser desabafo, passatempo.
Pode ser aspiração.
Pode ser arte.

Pode ser terapia.
Muitos blogs por aí são tentativas de terapia em grupo,
muitos leitores de blog vagam pela rede em busca de identificação.
E encontram, claro, pois os problemas são basicamente os mesmos.

As musas são poucas.
As circunstâncias não são tão variadas, também.

Todas as canções são de amor.
Perdido, encontrado, sonhado, negado.

Os cigarros não são mais suficientes.
Hoje eu tenho um remedinho que aos meios toda noite me acolhe.

Mas a minha vida não alardeia um sentido, se é que alguma o faz.
Eu chego em casa e não sei o que fazer.

A TV também não dá mais conta.
É quase tudo muito igual, e preciso me esforçar para focar minha atenção.

Em uma semana vil, sete livros me resgataram,
assuntos difíceis, raciocínios complicados.
Fuga.

Todo mundo foge.
Álcool, baladas, drogas, TV ou livros.
Qualquer coisa para parar de pensar.

Olhar para dentro é importante, mas é muito cansativo.

Escrever é olhar para dentro, eu sinto,
mas sempre se acaba manipulando os assuntos que afloram.

Por isso escrever às vezes dói.
Dói encarar, dói manipular, dói recriar.

Recriar é admitir o desejo por uma outra realidade.
A não ser que isso seja apenas diversão.

Mas esse é um outro tipo de escritor.
Ou alguém em um outro momento.

Eu escrevo por profissão,
mas minha profissão é vender.
E isso tira o valor do meu texto.

Eu me sinto vazia.
Minha expectativa é muito alta.
Minha cobrança é pior.
Meu conteúdo nunca está à altura.

Mas eu preciso me tratar.
Eu preciso escrever sem tema, sem prazo, sem verba.
Sem pauta, sem dupla, sem produto.

Meu produto sou eu, e eu não quero me vender.

Ninguém tem nada com isso,
mas eu preciso escrever.

Preciso falar do táxi, do almoço, da terapia.
Do cheiro de alecrim que saindo do forno faz a alegria do meu fim de semana.
Da falta que eu sinto de ter um gato.
Da culpa que eu sentiria em trancar um gato num apartamento.
Da tristeza de ver tudo errado em todo lugar.

Dos momentos angustiantes da solidão de não fazer parte de nada.
Dos momentos prazerozos da solidão de não ter que agradar a ninguém.

Às vezes fica mais difícil, mas é tão mais difícil para tanta gente.

Mas assim é que é.
E é isso que preciso tirar de mim.

E é este o meu espaço. Pois não sei mais escrever à mão, parece.
E se alguma coisa interessante aparecer no meio da bobagem, legal.

Se não, paciência. Esse não é meu objetivo.

Poderia escrever a noite inteira, mas chega.

Quero tentar outra coisa.

Quero relaxar.

E seguir escrevendo e procurando com calma.

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