12.6.07

Pedrinho no sapato

Não falha. Toda noite ele está na TV. O garotinho gritando sobre seu cocô e sua obsessão an(norm)al pelo amigo Pedrinho aparece sempre na hora em que estamos comendo. Às vezes ele aparece mais cedo, às vezes mais tarde, mas nunca falha. Dependendo do canal ele aparece com mais frequência, aparentemente com inserções concentradas no canal Sony. Lá em casa ficamos felizes quando notamos que sua primeira aparição se deu depois das 10, nos dando uma pequena folga.

Juro, já senti tanta raiva de Glade que torci para que suas vendas caíssem, que os consumidores repudiassem a marca, que o produto encalhasse nas gôndolas. Não tenho informações sobre seu desempenho, mas acabei me acostumando com o Pedrinho e tento pensar em outras coisas quando ele aparece, ignorando o mau-gosto da coisa toda.

Apesar de sua infindável chatice, entretanto, o moleque Pedrinho é inofensivo. Diferentemente do Asteróide Pallas, da Citröen, que deixou muita gente preocupada de verdade. Pesquisando sobre a *surpreendente* ação de buzz marketing, encontrei relatos de pais de família em pânico, sem saber como acalmar esposa e filhos. Gente querendo processar a Citröen, devido ao grande transtorno que causou nos desavisados. E principalmente, muita gente repudiando o tal veículo antes mesmo de seu lançamento. Cool.

Eu mesma tive o primeiro contato com a nota através de um email reencaminhado, alertando sobre o fim do mundo no próximo julho, e só então fui pesquisar a tal rota de colisão do asteróide.

Acontece que as pessoas que não estão por dentro das novas tendências de comunicação não têm o hábito de, ao topar com notícias sensacionalistas, pensar duas vezes e tentar descobrir o anunciante. E quando descobrem que foram enganadas, obviamente sentem-se desrespeitadas.

Acho estranho veículos supostamente sérios como Estadão e Uol veicularem esse tipo de publicidade, submetendo seus leitores a um anúncio que, além de se fazer passar por notícia, traz consigo um conteúdo tão polêmico.

Mais estranho ainda, na minha opinião, é a Citröen associar seu lançamento a um fato tão catastrófico, que anuncia o fim da vida na terra. Mesmo que seja apenas uma pegadinha.

Dando uma olhada na regulamentação do Conar, podemos encontrar vários artigos condenando a iniciativa.

Artigo 23 - Os anúncios devem ser realizados de forma a não abusar da confiança do consumidor, não explorar sua falta de experiência ou de conhecimento e não se beneficiar de sua credulidade.
Artigo 24 - Os anúncios não devem apoiar-se no medo sem que haja motivo socialmente relevante ou razão plausível.
Artigo 27 - O anúncio deve conter uma apresentação verdadeira do produto oferecido, conforme disposto nos artigos seguintes desta Seção, onde estão enumerados alguns aspectos que merecem especial atenção.
Artigo 28 - O anúncio deve ser claramente distinguido como tal, seja qual for a sua forma ou seu meio de veiculação.
Artigo 30 - A peça jornalística sob forma de reportagem, artigo, nota, texto-legenda ou qualquer outra que se veicule mediante pagamento, deve ser apropriadamente identificada para que se distingua das matérias editoriais e não confunda o Consumidor.

O pior é pensar que precisou da aprovação de umas 8 pessoas entre agência e cliente para isso chegar ao consumidor.

Será que ninguém mais confia que seu produto irá se destacar simplesmente porque é bom?

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