18.3.05

Decassílabos

Nunca, nunca quero voltar atrás
Olhar para frente mesmo que a visão
Desafie todos os meus sentidos.

Os olhos doendo, ardendo, sabendo
Que nem mesmo o benefício do pranto,
Vão, pode-se ainda sequer contar.

Vazias, seguem tateando nada
Mãos insensíveis à rocha, ao grão, chão
Não hão de segurar o que não sentem.

Não há cheiro nenhum ao meu redor.
Bom, ruim, doce, amargo, forte ou fraco
Nada com algum significado.

Tudo o que escuto me parece estranho
Contra mim ouço todos conspirando
Lamento, o choro me põe a dormir.

Sigo engolindo como naufragado
Cada experiência, um gosto salgado
Corto a língua, e diferença não faz.

Azar. Nunca, nunca voltar atrás.

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