27.7.05

A bênção, Cony

Sempre considerei a tristeza a mais bonita das paixões. Praticamente toda arte de que mais gosto foi feita sob essa inspiração.

E não acho que por ter me sido roubada recentemente minha opinião deve mudar. Afinal,

“É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração
Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
Senão não se faz um samba não”


nas palavras de Vinicius. Por isso, se às vezes o cardíaco se aperta, sem motivo ou com motivo, não luto contra. Sentir é lento, valorizo todo e qualquer movimento. Quero sentir a tristeza também, quando ela vier.

Caiu de uma das caixas da minha mudança um recorte de jornal que tenho há tempos. É um texto do Cony, triste, triste, do qual sempre me lembro e queria voltar a encontrar. Pois ele pousou em meus pés, do nada, em um dia esquisito.

E como “esquisito” é um negócio muito sem forma pra mim, se puder moldá–lo em tristeza bonita, fico pelo menos mais satisfeita.

Vejam que beleza:

“Aqui no Rio, as estações do ano são meio abagunçadas — é uma das tradições da cidade, tendemos à bagunça e nada demais que a própria natureza saia do sério tão logo ultrapassa as margens do Meriti, uma de nossas divisas mais emblemáticas. Daí que neste final de inverno vivemos um outono gostoso, com temperatura amena e as folhas douradas de nossas amendoeiras atapetando jardins e calçadas.

Depois do almoço, gosto de caminhar no imenso jardim do aterro. Não escandalizo ninguém com a minha solidão e me sinto bem pisando nessas folhas cor de ouro velho que amaciam meus passos. Outro dia, vi uma cena que me trouxe meditação e melancolia.

Há um mendigo que anda com uma carrocinha e, dentro dela, cinco ou seis vira–latas que ele conseguiu tirar daquela outra carrocinha que leva cães ao sacrifício. Os seis — mendigo e cinco vira–latas — repartem o mesmo chão e teto do barraco móvel e a mesma comida que os restaurantes jogam fora.

Vi o mendigo se afastar para ir buscar o almoço em algum lugar e fiquei observando os cachorros. Os cinco permaneceram na calçada, olhando fixamente o horizonte que havia tragado o amigo.

Os cães são assim: quando o dono se afasta, eles se imobilizam diante do horizonte. Não entendem muito por que o amigo sumiu, mas esperam. Sabem que ele deverá voltar — e nem a comida importa, importa que o dono volte.

As crianças também são assim. Detestam quando a mãe some do horizonte delas — um horizonte curto, do tamanho de um quarto, de uma casa. E também esperam, sabem que ela voltará.

Pior mesmo são os amantes. Também eles, quando a mulher amada some do horizonte, se imobilizam e esperam. O mundo pode vir abaixo, o Sol desabar, eles esperam. Olham fixamente o horizonte que a trará de volta. A diferença é que os donos e as mães geralmente voltam.”


Carlos Heitor Cony


Cony

Conheci o Cony na Academia Brasileira de Letras, no Rio. Como podem ver, ele me transformou numa estátua de cera.

22.7.05

Turma da Indiferença

SouthPark

Eu


JuSPark

Ju

Pessoal da Firma

AleSPark



Alessandra, minha dupla importada de Livramento, especialista em florzinhas de lã e fã número 1 da Brazoo.




LeSPark





Elenise, conhecida como "a mulher completa". Além de designer, ela canta, dança, sapateia e faz maquiagem como ninguém.




FeSPark




Fe, gente boa pra caramba, membro honorário da turma da indiferença e dona do celular mais ativo da criação.





MonstroSPark




Monstro. Designer durante o dia, responsável pelo terror e pânico que habitam as ruas porto–alegrenses durante a noite.

20.7.05

Briefing: carta para contemplados que não embarcam na viagem

Opção 1

Há um ditado que diz que “vergonha é roubar e não poder carregar”.

Pior que isso, só trabalhar como uma mula o ano inteiro, conseguir finalmente chegar entre os primeiros e na hora de ganhar o prêmio... nada. Você resolve não embarcar. Vai ficar em casa mesmo, deixar para a próxima.

Conta pra gente, vai. A namorada não liberou o passeio ou é você quem tem medo de avião? Tá preocupado de perder a correntinha dourada num arrastão?

Seu trouxa! Você está assinando seu atestado de idiota!

E se o pessoal estiver rindo pelos cantos, pode saber que é de você mesmo.

Tsc, tsc, tsc.


Opção 2

Você trabalhou duro o ano inteiro, dedicou-se e alcançou seu lugar entre os primeiros. Infelizmente, não vai poder acompanhar seus colegas na comemoração desse sucesso.

Sua ausência no evento será sentida por todos nós, que gostaríamos de prestar as devidas homenagens ao ótimo trabalho que você realizou.

Estamos certos de que no próximo ano teremos a oportunidade de cumprimentá-lo e premiá-lo novamente, já que você demonstrou ser capaz de vencer todos os desafios do caminho.

Saiba que, apesar de não viajar conosco, sua presença não será esquecida. Afinal, seu lugar é aqui. Seu lugar é entre os melhores!

19.7.05

Ah, tá.

tag

Etiqueta malcriada

Convergências

Vilaro-4-008-reduz

"A casualidade é, quem sabe, o sinônimo de Deus, quando este não quer
assinar."
(Anatole France)

Nem te conto!

A Folha de São Paulo ainda é meu jornal favorito, mas já faz certo tempo que as matérias vêm ficando cada vez mais intragáveis. Os jornalistas do veículo incorporaram um estilo que ultrapassa qualquer conceito jornalístico, mesmo aqueles mais básicos que se aprendem ainda nas aulas de redação do colégio.

Os textos são confusos, pedantes e parciais, tornando a busca por qualquer informação objetiva uma verdadeira gincana.

Ufa! Esse desabafo foi apenas uma introdução para mostrar um trecho de matéria da Folha Online que vem me contrariar. Tudo bem que o apego intelectual estava exagerado, mas assim também é demais. Confiram.

""Pânico" exagera, começa a ficar chato e ibope cai

O programa "Pânico na TV!", exibido aos domingos pela Rede TV!, começa a dar sinais de crise de criatividade e já registra queda no índice de audiência. (...)

O declínio no ibope ocorre após a turma do "Pânico na TV!" dedicar mais tempo ao lado comercial do negócio, em detrimento da criação e produção do programa.

A trupe fechou um contrato milionário de publicidade com uma cervejaria depois do fracasso nas negociações com o SBT, de Silvio Santos, que tentou contratar os humoristas.

Resultado: as piadas se repetem e perdem a graça, os quadros caem na mesmice, e os humoristas exageram na humilhação e desrespeito com os artistas que viram alvos de suas brincadeiras.

Ontem, o programa mostrou um desfile com roupas práticas. Foi tão sem graça que a própria equipe ficou dividida se a atração deveria ser exibida. (...) Nem as crianças deram risada da idéia tão tosca.

O mico deu margem a questionamentos: será que o pessoal não tem mais o que colocar no ar? Ou o compromisso publicitário com a Kaiser tem interferido na criatividade dos humoristas?

Até Vesgo e Ceará estiveram bem fracos ontem. Aliás, as brincadeiras e a falta de consideração com os entrevistados já se tornaram agressivas. Sem falar que os comentários estão cada vez mais sem graça.

Tudo bem que o pessoal tem talento e merece reconhecimento porque batalha e é honesto, mas como tudo enjoa, o programa já está cansando. (...) Imitações parecem ter prazo de validade restrito na TV, como não deixar que isso aconteça ainda é um mistério."

15.7.05

É hoje!

Carlos Paez Vilaro 5 005

Depois de uma novela cheia de altos e baixos cujo desenrolar eu pretendia narrar aqui (não deu tempo!), mudo para meu apartamento hoje.

12.7.05

Batman goes to the mall

batman

Piada Interna

If I had a million dollars
Well, I′d buy you a house
And if I had a million dollars
I′d buy you furniture for your house - maybe a nice chesterfield or an ottoman
And if I had a million dollars
Well, I′d buy you a K-Car - a nice Reliant automobile
And if I had a million dollars I′d buy your love

If I had a million dollars
I′d build a tree fort in our yard
If I had a million dollars
You could help, it wouldn′t be that hard
If I had a million dollars
Maybe we could put like a little tiny fridge in there somewhere

If I had a million dollars
Well, I′d buy you a fur coat - but not a real fur coat, that′s cruel
And if I had a million dollars
Well, I′d buy you an exotic pet - yep, like a llama or an emu
And if I had a million dollars
Well, I′d buy you John Merrick′s remains - ooh, all them crazy elephant bones
And if I had a million dollars I′d buy your love

If I had a million dollars
We wouldn′t have to walk to the store
If I had a million dollars
We′d take a limousine ′cause it costs more
If I had a million dollars
We wouldn′t have to eat Kraft Dinner

If I had a million dollars
Well, I′d buy you a green dress - but not a real green dress, that's cruel
And if I had a million dollars
Well, I′d buy you some art - a Picasso or a Garfunkel
If I had a million dollars
Well, I′d buy you a monkey - haven′t you always wanted a monkey
If I had a million dollars I′d buy your love

If I had a million dollars,
If I had a million dollars,
If I had a million dollars, I′d be rich

(Barenaked Ladies)

7.7.05

Enjoy the silence

Eu não sei exatamente o que acontece, mas.

Aqui onde eu trabalho, com uma freqüência maior do que eu gostaria, iniciam-se surtos coletivos que acometem o mulherio todo de uma vez.

Os surtos tais são identificados pelas seguintes características: gritos, gritos, gritos. Sim, muitos gritos. Sim, eu disse que era no meu ambiente de trabalho.

Sim, eu sei que eu trabalho em uma agência. Mas tudo tem limite, oras.

Com o passar do tempo, fui aprendendo a perceber quando a maré sobe antes da tsunami carregar tudo. Começa com um murmurinho que não cessa em poucos minutos, ele vai indo e indo. Se você olha para a porta e vê que mais pessoas estão chegando ao local, provavelmente inconscientemente atraídas pela iminente ocorrência, pode apertar os cintos – o que, neste caso, significa colocar os fones de ouvido e aumentar muito o volume do som.

A mulherada acha algum tema polêmico – que pode ser desde a cor de esmalte que está na moda até a proibição do uso do messenger – e engata a primeira.

A partir daí, alguém com mais potência na voz deve pensar que sua opinião é mais importante para o grupo – e aumenta um tom. Essa seqüência de pensamento, pelo que se percebe em seguida, deve ser bem comum, pois acontece no grupo todo. Quer dizer, uma após a outra, todas vão aumentando seus tons, até que uma feira livre pareça um concerto de musica clássica perto disso aqui.

É claro que exagero. Mas é que elas chegam num nível cuja freqüência interfere no funcionamento dos meus neurônios, travando meu cérebro. é sério.

Eu estava acostumada a trabalhar sempre com mais homens que mulheres. Ambientes mais equilibrados também são barulhentos, mas não dessa forma. Parece que as coisas não fogem ao controle. Pelo menos não totalmente.

Ao menos amanhã é sexta-feira e eu vou ver o meu amôur.